O fotógrafo da Archi-Photo, Paul Clemence, compartilhou conosco algumas raras imagens da casa de Pierre Jeanneret em Chandigarh. Ele descreveu esta fantástica experiência em um artigo publicado na revista Modern Magazine, que republicamos aqui com sua permissão.
Chandigarh, a cidade modernista concebida e planejada por Le Corbusier na Índia, oculta o trabalho de outro arquiteto de quem se fala muito pouco. Além do do plano urbanístico e da maioria dos mais importantes edifícios públicos da cidade, projetados pelo arquiteto ícone do modernismo, também é importante destacar o primoroso trabalho desenvolvido por seu primo mais jovem, Pierre Jeanneret, que foi seu colaborador ao longo de muitos anos e foi responsável por transformar as visões de Le Corbusier em realidade. Os dois trabalharam lado a lado nesse grande empreendimento, compartilhando a mesma sensibilidade projetual. Nomeado arquiteto sênior, Jeanneret, de origem suíça, supervisionou as obras deste ambicioso projeto e mostrou suas muitas habilidades, desenvolvendo importantes relações com os profissionais e a comunidade local. "Ele é respeitado como um pai, adorado como um irmão pelos quase cinquenta jovens que se candidataram para trabalhar no Gabinete do Arquiteto", escreveu Corbusier em admiração ao seu primo.
O legado deixado por Jeanneret em Chandigarh é inegável e ele ainda é visto como uma figura extraordinária. Sua relação com a cidade foi muito além das relações de trabalho (ele pediu que suas cinzas fossem espalhadas no Lago Sukhna): Chandigarh foi onde ele decidiu estabelecer sua residência - onde morou por quase dez anos - que foi recentemente transformada em um museu que celebra suas contribuições mais importantes para a história da cidade, seja durante a construção do Complexo do Capitólio, seja quando foi nomeado arquiteto responsável pelas obras concebidas em conjunto com Le Corbusier.
A casa construída por Jeanneret em Chandigarh não era apenas uma residência, ela serviu também como um canteiro experimental, aonde o arquiteto pôde testar ideias que mais tarde desenvolveria em seus projetos residenciais de larga escala. Implantada dentro de um bairro residencial para funcionários públicos, a casa foi concebida segundo os princípios mais elementares do modernismo, uma planta compacta e funcional e muitos espaços abertos e semi-abertos, criando um jogo dinâmico de luz e sombra em todo o edifício. Apesar do orçamento enxuto, seus detalhes simples e elegantes dão à casa um ar de sofisticação - incluindo cobogós, paredes na cor azul Klein, além de nichos e prateleiras geométricas embutidas. Durante a visita ao recém inaugurado museu de Jeanneret, podemos ver de perto como era a vida do arquiteto na Índia e acompanhar um pouco do seu processo criativo através dos muitos artefatos, fotografias e cartas, assim como as belas peças de mobiliário concebidas pelo próprio Jeanneret. Para nós, arquitetos e urbanistas, conhecer um pouco mais sobre a vida privada deste arquiteto nos faz perceber a extensa contribuição deste personagem que foi ofuscado pela onipresença de seu notório mentor.